quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Meio ruinzinho


Meio ruinzinho


 

Estava só. Ninguém para atrapalhar. Também, ninguém para ajudar.
Estava me virando como podia até que ouço: Você precisa encontrar uma mulher que tome conta de você.
Tremeram minhas carnes até o mais profundo do meu ego. Pensei: Como assim?! Não sou capaz de realizar tarefas diárias simples como manter a casa limpa, a roupa organizada, preparar minha alimentação. Preciso de alguém que faça isso para mim? Ainda, precisaria casar com alguém. Definitivamente não.
Passei então a observar amigas, procurar por dicas.
Confeccionei um calendário de tarefas. Minhas noites e os dias de sábado passaram a ser devotados ao trabalho do lar.
Passado algum tempo, comecei a descobrir a verdadeira razão da existência de uma lavadora de roupas.  Minhas mãos que digam. A casa passou a ser faxinada de uma vez por dia para uma vez por semana, com os alguns cuidados como entrar na casa sem os sapatos sujos ou uma rápida lavagem no wc após uso e outras coisinhas. Até que, em minhas observações às mulheres que vivem sozinhas, descobri a existência das auxiliares do lar. Que maravilhosas essas pessoas que, como num passe de mágica, deixam a casa brilhando num lapso de tempo igual a um dia de trabalho meu, fora da casa. Roupas limpas, casa organizada, limpa e cheirosa. Finalmente aprendi. Viva essas mulheres!
Na cozinha outra lição, verdadeiramente mais agradável. Descobri cheiros, texturas e sabores diversos. Nunca fui chegado a muito rebuscamento, mas saboreio, ainda hoje, um bom feijão; arroz, sem queimar! Aprendi alguns pratos com peixe, uma massinha e por aí vai.
A vida seguiu, nem quieta nem agitada. Até que, após alguns contatos imediatos com o sexo oposto, cheguei a situação de casado. Novamente.  
Naquela altura de nossas vidas, cada qual com o seu pacote, incluindo filhos e netos. Nesse último quesito acrescentei duas a minha cota.
Uma visita da caçulinha encheu a casa de criança. Não sei como conseguem, mas uma é suficiente para encher todos os cantos de qualquer casa.
Uma noite, resolvi atender as suas necessidades e ofereci um ovo frito. Fui a cozinha, e tentei fritar um ovo mantendo a gema inteira, sem sucesso. Noutra, foi a tapioca que não ficou tão boa quanto a da vovó.
Depois de tanto tempo no aperfeiçoamento das atividades domésticas, onde cozinhar eu tinha como a mais auspiciosa, fui obrigado a ouvir de uma linda, tagarela e sapeca criaturinha de sete anos: O vovô é legal, mas na cozinha ele é meio ruinzinho.
 
                                                                                                                                    AJFontes

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