De Volta pra Catende
Lá vem um matuto de Catende que
resolveu conhecer Recife. A capital do Estado e ele, já com seus vinte e poucos
anos, ainda não conhecia. Nunca tinha saído nem de sua cidade.
Dinheiro no bolso, umas roupas
domingueiras na mala, danou-se pra bandas da capital.
Hospedou-se num hotel bem no centro
da cidade. Pertinho da pracinha do Diário. Depois que botou as coisas no
quarto, saiu. Passou o dia perambulando, pra lá e pra cá. Olhando as vitrines
da rua Nova. Entrou na sloper, loja chique naqueles anos de 60, admirado com
tanta coisa bonita e fina. Na Viana Leal, ficou doido, subindo e descendo nas
escadas rolantes. Parecia menino, escondendo o sorriso de satisfação num
carrossel. Enveredou para a Imperatriz, atravessando a ponte da Boa Vista. Não
deixou de parar no meio da ponte e apreciar à imponente casa de detenção logo a
sua frente e as outras pontes atravessando o rio Capibaribe. E foi passeando,
olhando os produtos dos camelos nas calçadas até chegar na praça Maciel
Pinheiro. Voltou pela Conde da Boa Vista. Eita movimento danado de carro!
Ônibus, carros de passeio indo e voltando. Buzinas e freios, sons estranhos ao
sujeito acostumado ao relincho do cavalo, mugido da vaca. Gente bonita e bem
vestida, sozinhas ou em duplas e até grupos maiores em conversas animadas. A
avenida pegava fogo de tanta gente. A sexta-feira, prenunciava o fim de semana.
No domingo, é claro, a programação seria a praia, para ver o que disseram ser o
maior açude do mundo. Com o cuidado de colocar uma pedra de sal na boca antes
do primeiro mergulho “senão morre afogado”, disseram.
Mas, antes disso, o negócio foi
bate pernas pelas ruas até que chegou, de volta, a pracinha do Diário, passando
pela Guararapes, vendo o prédio dos correios. “ Prédio grande danado! ” Pensou.
Já meio dia, a fome bateu pesado e
o roi-roi começou na barriga. Foi bater no Sertanense, bem do lado da matriz de
Santo Antônio. Entrou, olhou. Achou engraçado aquele balcão cheio de entradas,
sentou e pediu um prato de comida. Oh! Coisa boa danada, a barriga cheia! Um
palito e um cafezinho. Resolveu tomar um lá na Guararapes, num bar com um nome
diferente: Savoy.
Era a hora para um cochilo no
hotel.
Lá pelas cinco da tarde, acordado,
resolveu tomar uma sopa. Lá vem de novo aqueles balcões engraçados. “ Uma sopa
até boa, visse? “
Na sequência, adivinha? Bater
perna. Andou reto pela Guararapes, Conde da Boa Vista, chegou no canal da
Agamenon Magalhães. De repente, apareceu uma praça grande, muito grande na
frente dele. A praça do Derby tomou conta das vistas dele. Parou, sentou
apreciando o movimento. Ficou tão alezado que não notou o tempo passando e
quando viu já era noite. Tomou um susto, levantou e quando pensou em voltar,
ouviu música. Curioso, foi atrás do som e chegou na pracinha do Internacional.
O som da música vinha do clube Internacional. Aproximou-se para apreciar o
movimento na entrada. Muita gente chegando, até formar uma pequena confusão na
frente do clube. Aí apareceu uma coisa que ele conhecia: cavalo. Era um pelotão
montado da polícia. Ele continuou apreciando e viu que a confusão cresceu,
próximo onde estava, mas continuou de braços cruzados, quieto e olhando.
Num dado momento, os cavalariços
partiram para cima da multidão com suas espadas desembainhadas dando golpes e
empurrando com os animais. Um deles, a galope, partiu pra cima do nosso amigo
que, percebendo, pegou o policial pelos fundilhos e braço, jogou o coitado no
chão, pulou no cavalo, tomou as rédeas, aprumou o bicho no sentido do centro e
só parou na porta do hotel. Saltou, entrou correndo, pagou, pegou as malas, e
saiu para a rodoviária.
De Recife “ já chega! “ E lá foi
ele danado, de volta, pra Catende.
AJFontes