AJ Fontes
Meu reino por uma cerveja! Gritei enquanto era levado no arrocho da Concórdia em pleno sábado de Zé Pereira. Não alcançava o chão e quando tocava com as pontas dos pés impulsionava o corpo e levantava a cabeçaem busca de ar para respirar. Uma massa que se arrastavana via estreita do centro do Recife.
Bem diferente do grupo vestido de almas penadas que assisti da porta de “A Primavera” em um carnaval que nem lembrava mais. Pulavam e cantavam acompanhados por uma orquestra de metais antecedidos por um estandarte: Clube Galo da Madrugada, afinal precisaram de toda a noite para organizar fantasias, músicos e tudo mais para sair no comecinho do dia.
Muitos seguiram a família de Eneias, fundador do grupo, nesse e nos anos seguintes. Os seguidores foram tantos que em 1994 entrou para o hall recifense e mundial de “maior do mudo”. Não é em linha reta porque um milhão de foliões, dizem, atravessaria a cidade de norte a sul e não daria para ver os cantores, as orquestras, os pierrôs acompanhados ou não de colombinas, palhaços, burrinhas e outros bichos.
Quem diria que um punhado de gente foliã fosse capaz de fechar o comércio e aumentar, na vera, um dia de carnaval. E eles só queriam ressuscitar o carnaval de rua. Na vera que, inspirados por eles, outros grupos se juntaram e começaram a preencher as ruas nos bairros da Capital do Frevo tocando flauta com Lili, Segurando o Talo ou o chifre do touro até chegar no Recife Antigo onde o povo se juntou a cantar e dançar a dança frevente.
E não é que fui atendido! Sem precisar dispor de meu reino, que nem tenho. Vi um pedaço do calçamento no meio da Concórdia. E, na vera, tinha um vendedor com uma caixa de isopor. A placa dizia é dez. O tempo parou, o som dos clarins ecoou distante e em passos de câmara lenta cheguei, entreguei a cédula, abri a latinha e, feito um vulcão, a espuma subiu. O que sobrou eu bebi.
Na vera? Nem senti se estava quente.
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