Vaga no mundo
AJFontes
A estrada perturbada por buzinas e
motores de carros raivosos pela interrupção do descanso. Veem somente as
listras amarelas no asfalto. Alheios a luz vinda do céu que brilha nas gotas,
antes de cair das folhas verdes nas matas dos morros ao lado. Ninguém vê essa
beleza? Após aceleradas, freios e manobras chega ao estacionamento.
Passos surdos povoam o caminho até
o elevador. São ternos escuros, saias longas, pastas, bolsas e celulares. Por
linhas cruzadas, curvas ou retas, chegam ao cubículo que Despeja partes em
camadas subsequentes, acima, mais acima. Em cada uma delas, novos arranjos ou
desarranjos no fluxo e os grupos chegam aos corredores que separam pequenas
caixas abertas de laterais baixas onde pousa um computador, papeis e outras
coisas. Ocupam dois metros repetidos dezenas de vezes. Luzes anêmicas, ares sintéticos, cores plásticas.
Pousa os pertences no canto e
senta. Num giro da cadeira suspira ao encontrar um galho verde da copa de uma
árvore ao sabor do vento lá fora. Inicia os contatos cibernéticos. Estica o
pescoço. A cima de um metro e quarenta centímetros o mundo é vazio. Tabelas na
tela, analises rabiscadas no papel ao lado. O compasso militar de um caminhar atravessa
o corredor e levanta uma onda de toques nos teclados e vozes, quebrada na
parede ao fundo. Sobra o encaixe da lingueta da maçaneta no portal.
Quilos de números, nomes. Alguns
deleites se apresentam em convites para festinhas. Hoje não dá.
Soma-se aos sons, a abertura dos
plásticos que embrulham comidas não menos artificiais. Seria o momento do
almoço, mas é apenas uma pequena parada para atender à necessidade física que
insiste: Tô com fome.
Filho, descanse um pouco, faça a
digestão. Diria minha mãe. Não há tempo. No mar revolto os escafandristas lutam
por espaços entres erros e acertos. De snokel, máscara e nadadeiras, ele se
mantém flutuando. Por vezes, observa e caminha por entre as árvores verdes, de
cheio forte que deixou à margem de seu caminho.
Um minuto antes da exaustão, desagua
o riacho de mágoas, belezas efêmeras, felicidades estéreis. Se espraia no
estacionamento.
Ele senta no carro. Um longo
suspiro espanta os números mais resistentes. Segue de encontro ao sol de amanhã,
onde pulso entre pássaros, abraçado pelo verde.
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