A passagem
Longe, um som
ritmado ecoa. Passos lentos, olhar no vazio, sorri. Que dia. Os bancos
compridos, encostados à parede, passam. Um vulto, distante ainda, chama a
atenção. Acelera ao descobrir cada detalhe, até que surge completo à sua
frente.
Acaricia as curvas. Com os olhos sorve o brilho do
corpo. Posiciona-se no banco, leva-o ao pescoço. As cordas, com o carinho do
arco e o toque dos dedos vibram. Emanam ondas de luz. Verdes, brancas e
amarelas dançam no alto em companhia das azuis e vermelhas, no baixo. Crescem círculos
dentro de outro e de outro mais, multicoloridos, transpassam tudo à frente. Atiram-se
em cascata na profundeza das notas. Apagam.
Na cortina negra piscam pontos. Poucos. Outros se
mostram, espalham-se, aceleram, linhas se formam, enlaçam umas às outras, mudam
os tons, mais pontos, linhas, cores, luz. A brancura toma conta. Se suporta no
dedo que treme tocando a última corda, juntinho do arco que a alisa. E esmaece...
Esmaece... Esmaece...
Pousa o instrumento no banco. Agradeço amigo, pelo
presente. Preciso ir. Ouço aquele som ritmado. Entra no vagão que inicia a
marcha.
- Amigo! Sinto-me tão leve... Flutuo!
AJFontes