Que lembre...
Vai começar. Cadê?
Abri os olhos devagar, até acostumar
com a claridade que atravessava os vidros da janela, depois de driblar a chuva
fina. Enxerguei cada coisa: A escola, professora chata, dever de casa; mas,
também a feira, o ceguinho das pernas compridas sentado num banquinho pedindo
esmolas, os bois e cavalos de barro, o mercado de farinha. Aproveitei o tempo
que restava curtindo o calorzinho. A água fria despertou meu corpo. Esquentou
depois que vesti a roupa. Vou botar folhas de jornal dobradas dentro dos
sapatos, se não, molho os pés.
Na bolsa, dentro do caderno, dos
livros. Não encontrei.
Hum! Que cheiro bom. Segui o rastro
identificando cuscuz e café, da mercearia; queijo coalho e ovos, da feira.
Nesta época as comidas de milho reinavam: pamonha, canjica ou cozido. Todos os
dias, na garupa de uma bicicleta, chegava o pão. No lombo do burro era o leite.
Lá estava a família na mesa. Cada qual trazendo para um prato alguma delícia.
No chão desde a entrada, passando
pelo corredor, salas e nada.
Era divertido ver a água saltar das
poças quando pisava; o trem chegando na estação com um longo apito. Na esquina,
o cheiro forte de cachaça misturado com o de charque. Alguns homens bebiam no
balcão da venda. Trabalhavam perto. Uns, alugando as carroças estacionadas sob
uma árvore frondosa no largo em frente, onde os cavalos tinham sossego entre os
fretes; outros, consertavam lonas que cobriam cargas de caminhões. Uma
estendida, tomava quase toda a calçada. Observava o trabalho de lixar, espalhar
a cola, posicionar o remendo e bater com um martelo de borracha. Por vezes
tinha que correr para não atrasar.
Deixei em casa? Caiu na rua?
A algazarra da criançada, a procura
de seus lugares nos bancos compridos, ultrapassava as divisórias de madeira a
meia altura das salas e explodia no alto do grande salão.
Passei a mão sobre os bolsos da
calça; da camisa.
- O lápis!
AJFontes