quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Pó de Pirilimpimpim


Pó de Pirilimpimpim

 
Curioso, olha para minha mão enquanto faço círculos no ar, sobre a região machucada, pressionando a ponta do polegar contra o indicador e vou recitando: Pó de pirilimpimpim tire essa dor daqui e leve para ali, fazendo o gesto de jogar o pó para o mais alto que posso.

Mais uma vez esquece a dor no joelho ou em outra parte do corpo de menino de 2 anos; mais uma vez o choro cessa e mais uma vez ele não consegue descobrir o pó mágico que eu retiro do cós de minhas calças nesses momentos. Quase fico sem calças quando ele procura a origem do milagre.

Onde está? - Pergunta olhando com desconfiança para mim. Quero um pouco para mim. Quero ver

Esse pó, um mágico deixou comigo Respondo. Só os pais têm e podem ver. Quando você for pai vai conhecer.

Seu olhar denuncia não acreditar no que ouve, mas deixa pra lá.

Volta a gritaria, a correria.

Novas quedas, novos choros. Então: pó de pirilimpimpim...
 
AJFontes

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Estou Aqui, Agora


Estou Aqui, Agora


Cinquenta e nove anos.

Meses, dias,

Horas, minutos,

Segundos.

Quantos?

Sei lá.

Sei que cada um deles é precioso pra mim

Vivi cada um deles

Tenho em mim a marca de cada um deles.

Sei que de cada um deles recebi tudo que precisei

Exatamente o que precisei

Nem mais, nem menos.

Sei que em cada um deles tem um pedacinho de mim

Em cada cantinho desse Universo

E de outros.

Sei o que fui e o que não fui.

Sei o que senti e o que não senti.

Sei o que fiz e o que não fiz.

Sei

Que nada sei.

Feliz Ano Novo pra mim.

Viva!

Viverei Feliz os próximos

Cinquenta e nove anos.
AJFontes
 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Contagem


Con...ta...gem


 

Do primeiro copo

Você conta os goles

 

Da segunda lata

         Você conta os copos

 

Do terceiro pacote

    Você...não conta.



Evite a amnésia

Conte com a moderação
 
AJFontes
 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Convite


Convite


 


Teus olhos brilharam

Iluminando o rosto moreno.

Explodindo sentimentos

Verdadeiros naquele momento.

 

Teus olhos apagaram

Escurecendo o rosto moreno.

Implodindo sentimentos

Escusos noutro momento.

 

Teus passos incertos de ir ou vir

Tuas falas certeiras sem alvo fixo

Tuas dúvidas do real

Teus anseios pelo imaginário.

 

Teus seis sentidos te trazem a mim.

 

Eu sou tudo, enquanto nada.

Nada mais belo e vibrante

Que uma paisagem distante

Sem detalhes, pormenores

É delirante.

 

Posso ser nada, enquanto tudo.

Tudo que trago:

Folhas amarronzadas, chão descascado

De sóis e chuvas passados.

 

Sai desse topo

Desce até meu chão

Minha copa, meu caule, minhas raízes.

Conhece-me.

 

Depois volta

Leva só lembranças

De teu agrado

Ou fica

E semeia este chão

Com teu abraço.
AJFontes

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

De: Ágata Para: Melissa


De: Ágata Para: Melissa


Oi amiga.

Como vai você? Faz tempo que queria escrever, mas fiquei, tipo assim, entalada despois que você foi. Ficou tudo meio que vazio. Tipo assim, uma casa enorme e eu sozinha sem entender se você tinha ido ao médico ou sei lá pra onde, até que entendi que não iria mais ver você. Aí bateu uma tristeza. Passei uns dias assim, assim. Sem fome nem vontade de fazer nada. Mas a vidinha continuou e ele, meu dono, começou, tipo assim, a ter mais atenção comigo. Chegar perto, fazendo carinho. Sabe como é que é, né?

Tudo é novidade. Mesmo as coisas antigas. Lembra que meu dono não deixava a gente entrar naquele quarto que ele dorme? Isso não mudou, eu entendi e, mesmo com a porta aberta, não entro. Em compensação, todo dia quando chega em casa me procura, faz carinho. Um fofo. Também tem comidinha nova. Uma gostosura.

No começo fiquei, tipo assim, sem entender, mas despois vi que ele estava querendo chegar mais perto de mim mesmo. Aí eu cheguei também. Hoje peço colo e ele dá, mesmo quando está escrevendo naquela coisa, aqui na sala.

O banho, brummmm, continua um horror! Mas ele faz com calma e não exagera. Com jeitinho é bem melhor, né?

Há! Lembra do gatinho branco que, de vez em quando, aparecia aqui? Ele, tipo assim, voltou menina. Outro dia meu dono encontrou ele na sala. Aí já viu né? Foi uma correria danada.

Ele bem que é legal. Nada de mais, só um papinho, umas brincadeirinhas. Acho que meu dono sabe que ele vem aqui de vez em quando, mas faz de conta que não sabe. Também, o bichano faz por onde: Não desarruma, não faz sujeira.

Outo dia estava lembrando quando cai da janela do quarto que durmo e fiquei um bom tempo lá em baixo, chamando, chamando e chamando por meu dono. Lembra?  Quando ele viu, correu, preocupado. Tentou me pegar e eu toda pra lá, mas terminei chegando perto. As outras vezes que cai já estava acostumada. O jardim ainda era estranho, mas...nem tanto. Legal foi noutro dia. Faz, tipo assim, uma semana. A gente estava na sala, tudo quieto. Aí menina, tipo assim, de repente ele abriu a porta e chamou. Eu fiquei paralisada, como sempre, ouvindo homens falando, crianças chorando, sem ver onde estavam. Ele foi andando e chamando. Devagar chegamos no jardim lá embaixo. Fiquei doidinha, doidinha. Tanto cheiro diferente. Claro que tinha de gatos. Junto dele foi, tipo assim, TDB.

Ruinzinho é quando ele vai trabalhar. Isso é: Todo dia né? Fico só. É bom que tenho todo tempo pra fazer uma coisa que gosto: ficar paradona, tipo assim, olhando pelas janelas, o movimento nos telhados. Mas tem uma hora que a saudade bate e aí fico chamando ele. Você sabe que quando eu chamo, eu chamo messssmooooo! Miando, desesperada. Quando ele chega e ouço o carro parando, aí que faço, tipo assim, com mais força. Vale a pena porque quando ele entra fica todo molão pro meu lado.

Espera! Tô ouvindo, tipo assim, um miado. É ele.

Tá amiga, vou ver. Até qualquer dia.

Escreve vez em quando. Pode ser pra reclamar. HAHAHA.
Um beijão.

Ágata
AJFontes

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Aquele Ano Passou


Aquele Ano Passou


 

 

O Ano Novo chegou! Fogos, gritos. Muita gente na beira da praia.

Abraços, felicitações. A alegria estava em cada rosto, em cada sorriso, em cada lágrima.

O ar cheio de tudo isso e muito mais.

Eu estava lá também. Alegre, felicitando e sendo felicitado.

O champanhe escorria entre os risos. A luz da lua, passada há dias de cheia, ainda iluminava o espelho do mar. Os cheiros misturados de fumaça, do mar, da bebida inebriavam o novo ano.

Os pulinhos nas ondas, pra ter sorte. Um...dois...três.......sete. Tantas outras coisas feitas para que ele, o ano novo, atenda nossos desejos.

Busquei um lugar à beira do mar. Queria refletir e molhar os pés. Quando encontrei, respirei fundo, fechei os olhos e entreguei-me aos cheiros e sons do mar. Nesse devaneio percebi uma presença ao meu lado. Abri os olhos e assustado vi uma senhora: Esguia, rosto afilado, bonito; cabelos branquinhos, cortados rentes ao pescoço; um vestido longo, esvoaçante. Olhava descuidada para o mar.

Não se preocupe, disse ela, sem tirar os olhos do mar. Somente quero estar perto. Você chamou minha atenção na praia e sei que não é má pessoa. Quero estar perto de um homem. Sentir novamente o que senti junto dele, aqui mesmo...assim mesmo, como estamos. Perdoe-me a invasão, mas tenho a permissão da idade (risos). Sinto a falta da intimidade que tínhamos.

Ficamos assim: ela quieta, calada, rosto leve, olhos no infinito das lembranças. Mantive meu silêncio.

De repente ouvimos:  mãe!...mããeeee! Meu filho. Filhos!!!!, disse ela sorrindo, agora olhando nos meus olhos. Feliz Ano Novo. Voltou-se e seguiu ao encontro dele.

Voltei à minha contemplação, ainda vendo o brilho dos seus olhos marejados no reflexo da lua no mar.

Aquele ano passou; as lembranças e o amor não. Estes são eternos.
AJFontes